COMO EVITAR ACIDENTES DE TRABALHO COM A MEMÓRIA CONSCIENTE

COMO EVITAR ACIDENTES DE TRABALHO COM A MEMÓRIA CONSCIENTE

Como evitar acidentes de trabalho é a pergunta existencial das equipes que atuam dia e noite para dominar a face obscura do ser humano, verdadeira campeã das causas dos acidentes laborais.

Mesmo com toda a informação, tecnologia, treinamentos, “puxões de orelha” e muito mais, a negligência continua sendo o terror da C.I.P.A (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) nas organizações modernas.

É diante destes desafios e diante da minha experiência atendendo os três setores da economia em eventos de segurança do trabalho, que começo esse artigo “em alto e bom texto”:

Consciência da nossa fragilidade, conhecimento dos riscos e respeito à vida são a essência da prevenção de acidentes de trabalho e do conceito de Memória Consciente.

Neste artigo você verá dicas de segurança no trabalho divididas nos seguintes tópicos:

A dura verdade que incomoda os profissionais de segurança do trabalho, é que muitas pessoas ignoram os riscos de acidentes, mesmo com a bagagem de conhecimento e experiência que possuem.

É como se houvesse um lapso no momento em que a negligência se manifesta.

Em verdade, uma ausência de consciência, muito mais do que falta de informação.

O que realmente falta nessas horas é sensibilidade para prevenir acidentes.

MEMÓRIA CONSCIENTE – A ESSÊNCIA DE COMO EVITAR ACIDENTES DE TRABALHO

Da mesma forma que “o melhor médico” de uma pessoa é a própria pessoa, o melhor provedor da segurança também é o próprio indivíduo.

Cada pessoa conhece seu corpo e suas sensações como ninguém e por isso, a matriz do gerenciamento da saúde é a auto percepção aliada ao autocuidado.

Por isso, o melhor gerente da segurança no trabalho é o próprio indivíduo.

Cada trabalhador tem ciência (ou deveria ter), das limitações do seu corpo diante do cenário laboral e os riscos que cada atividade possui, fazendo do cuidado ativo, a matriz da segurança no ambiente de trabalho.

Não importa se é num ambiente industrial, administrativo, escritório, numa planta estratégica ou outro tipo de ambiente, este princípio de autocuidado se aplica enfaticamente.

Mas para isso funcionar, cada um precisa de um pensamento vigilante, inabalável às tentações da negligência, movida pela sensibilidade, pela consciência.

É isso que chamo de Memória Consciente, a lembrança sentinela das perdas em potencial que uma atitude insegura possui.

OS FATOS QUE TODOS PRESENCIAM, MAS POUCOS ASSUMEM

Sabe aquelas coisas que acontecem em quase toda empresa, mas pouca gente diz? Pois é.

Na palestra de segurança do trabalho que faço pelo Brasil, alguns tomam coragem e trazem a público as atitudes negligentes que já aconteceram.

Outros vem conversar comigo nos corredores ou no camarim, relatando experiências de aprendizado diante das falhas.

Certamente você já presenciou colegas de trabalho se arriscando de alguma forma, dentro ou fora da empresa.

Eles sabiam dos riscos e você também.

Todos que estavam “por ali”, igualmente sabiam.

Isso é o que podemos chamar de “a negligência, nua e crua, descarada”.

Também é provável que você já tenha se apanhado negligenciando seu próprio conhecimento ou confiando demais na “experiência” (lembrando que muitos “experientes” não estão mais entre nós, após a “atitude experiente”).

Isso é uma realidade não somente em atividades industriais, mas em toda e qualquer atividade laboral que traga consigo um índice de periculosidade mais elevado (esportes radicais, aventuras, passeios, vôos).

Tem sempre um “experiente inabalável”, que jura dominar tudo e acaba sendo a personagem da próxima história com vítima fatal.

Deixar de usar os EPI´s ainda é a negligência campeã em empresas de todo o Brasil.

Membros da CIPA das organizações brasileiras, lutam diariamente para ajustar essa contra utilização que parece ser um “bicho indomável”.

Desde quando eu estudava eletrotécnica no CEFET, entre 1993 e 1997, sempre havia relatos assim nas empresas que visitávamos durante as disciplinas de laboratório e segurança do trabalho.

Me lembro bem dos famosos acidentes de trabalho ocorridos nos anos 90 em Belo Horizonte.

Um deles é o famoso ensaio de transformador que foi realizado pelo lado de tensão errado, ocorrido na fábrica de uma marca referência.

Essa história permeava os laboratórios e corredores do CEFET e certamente serviu de lição preventiva para muitos alunos.

O outro caso famoso é o de um homem que teve grande parte do corpo queimado, quando um gato entrou num bastidor de alta tensão e resolveu sair de lá bem no momento em que o operador abriu a porta; o movimento do gato provocou um curto circuito, que culminou na descarga de alta tensão sobre o funcionário de uma famosa companhia energética.

Estes fatos ocorrem bastante no mundo inteiro.

Mas estamos no tempo do conhecimento compartilhado.

Chegou a hora e já está passando a hora dessa realidade mudar definitivamente.

AS 3 CAUSAS MAIS COMUNS DOS ACIDENTES QUE PODERIAM SER EVITADOS

Diante destes fatos, há 3 grandes causas extremamente comuns, que revelam as razões do que se passa, especialmente nas grandes organizações brasileiras:

Causa 1 – O excesso de confiança

Um dos mais perigosos, senão o mais ameaçador dos males, o excesso de confiança é o combustível da negligência.

Faz o indivíduo supor que um acidente jamais acontecerá com ele (a).

Em quase todo evento indesejado, essa “pseudo-imunidade” marca presença segundos antes da tragédia.

Na sociedade moderna, em que o ego orienta a vida de boa parte das pessoas, parecer melhor, mais forte do que realmente é, se tornou um problema até mesmo da segurança do trabalho.

Por isso é preciso bater na tecla da consciência, para que o trabalhador perceba a realidade.

Causa 2 – O pensamento cartesiano

Base da educação no Brasil, o pensamento cartesiano é ótimo para determinadas funções.

Mas ao mesmo tempo, nos condiciona a supor que temos controle de todas as variáveis que conhecemos (o que está longe de ser verdade).

Como o ambiente profissional na maioria das vezes é um velho conhecido do trabalhador (a), ele (a) supõe que tudo está sob controle, que “aquele território já está dominado”.

É aí que reside o mal.

Duas grandes falácias acabam sendo incorporadas no pensamento comum:

  • Que as variáveis que conhecemos são as únicas variáveis que importam
  • Que sempre é possível prever resultados quando as variáveis são conhecidas

Surpreendentemente é o mesmo tipo de crença que faz com que as pessoas compliquem suas próprias vidas em outras situações cotidianas, como no trânsito, na segurança pessoal e até mesmo nas finanças pessoais.

Presumir controle linear em cenários caóticos é o caminho certeiro para a fatalidade.

É preciso expandir a consciência para a nossa vulnerabilidade diante da complexidade.

Somente assim nos tornamos mais fortes.

Causa 3 – Crença de que a tecnologia pode substituir o comportamento seguro

Como a tecnologia “tomou conta” de tudo ao nosso redor, inclusive das máquinas que operam no ambiente de trabalho, muitas pessoas pensam que essa mesma tecnologia garante a segurança em 100%.

É fato que há dispositivos, sensores, botões de emergência e afins criados, para desarmar o funcionamento de uma máquina num momento de pânico.

Mas isso não garante nada.

Máquinas modernas também constam como coadjuvantes em acidentes gravíssimos e fatais.

Por mais que elas tenham sido criadas com alta tecnologia, estão longe da perfeição.

Nada substituiu o comportamento seguro.

Por mais precisão que um dispositivo de segurança tenha, a não necessidade de utilizá-lo continua passando pelo controle comportamental, pela consciência.

Por isso continuo afirmando que o autoconhecimento é um fator fundamental para evitar acidentes de trabalho.

Na palestra que realizei na SIPAT do Santuário Nacional abordei esse assunto numa dinâmica bem interessante, com a participação do público (veja o vídeo abaixo):

Para gerar consciência é preciso colocar a mente para trabalhar na direção certa.

Isso se faz por meio de perguntas certeiras.

COMO EVITAR ACIDENTES DE TRABALHO – A SOLUÇÃO

Diante dos fatos e do conhecimento, como evitar acidentes de trabalho?

Por meio de uma solução:

O cuidado ativo, o gerenciamento do risco pela ação sempre defensiva em qualquer atividade.

O que só é possível com a memória consciente ativa em todos os trabalhadores.

O cuidado ativo se baseia em pequenas ações no dia-a-dia que previnem, informam e salvam vidas antes mesmo que a possibilidade de entrar na zona de risco se faça real.

Alguns pré-requisitos desse tipo de abordagem são:

  • Vigilância constante da própria segurança e da segurança dos colegas
  • Atualização nos procedimentos de segurança incluindo os EPI´s e sua forma de utilização
  • Cumprimento dos requisitos de segurança nos mínimos detalhes (até mesmo para subir ou descer escadas de circulação)
  • Realização de treinamentos práticos em campo e eventos que possam integrar a equipe

Assim, listo abaixo um passo-a-passo que irá contribuir para que você e sua equipe possam praticar o cuidado ativo o tempo todo, todos os dias:

Tenha em mente que prevenir acidentes é mais importante do que a atividade em si

Pense comigo: do que adianta produzir algo, se o resultado da produção incluir a perda de pessoas ou de saúde? Se houver acidente ou morte a atividade já passa a não fazer sentido.

Por isso é importante saber que a prevenção de acidentes e o bem-estar estão no centro de tudo.

Estude os pontos críticos de cada atividade e/ou setor, mesmo que já tenha muita vivência/experiência

Dominar os pontos críticos da segurança em cada atividade, processo ou setor é um grande ganho de proatividade.

É exatamente nesse contexto que o verdadeiro cuidado ativo se faz.

Portanto tenha muita atenção e ciência dos “gargalos” da segurança na sua atividade e nas atividades auxiliares à sua atividade principal.

Procure dominar também os gargalos intersetoriais e todo gargalo que for compartilhado nas reuniões de alinhamento dos procedimentos de segurança.

Atualize-se

A atualização é o princípio da proatividade.

Para realizar o cuidado ativo com maestria é básico dominar as melhores práticas e as novidades nos processos de segurança.

Procure focar principalmente no que há de novo e nos processos operacionais, já que a tecnologia está revolucionando os equipamentos e procedimentos.

Promova encontros de aculturamento e atualização

Reuniões setoriais, treinamentos específicos, semana da Sipat dentre outros tipos de encontros são muito válidos para o trabalho de aculturamento e motivação para o cuidado ativo.

Na palestra Motivação Para a Segurança do Trabalho abordo de forma mais aprofundada e interativa, o que é preciso fazer para evitar acidentes de trabalho e trabalhar a motivação específica para isso.

Costumo dizer que os eventos têm um fator que os tornam atemporais; eles promovem o encontro entre pessoas como nenhuma outra ação.

É por isso que a cultura se reforça já que a socialização é um fator crítico de sucesso para o compartilhamento do intangível.

Se cometer ou ver algum erro, corrija na hora

Por mais que trabalhemos com afinco na geração de memória consciente errar é humano e continuará sendo.

Do contrário não seria preciso todo o trabalho de gerenciamento da segurança do trabalho, todo o pessoal envolvido e tudo o mais.

Então é importante corrigir todo e qualquer erro imediatamente à sua ocorrência e o principal; tratar o erro como um feedback, como um sinal que a realidade está nos dando para que melhorias sejam realizadas e lições sejam aprendidas.

O que é importante é que o erro não fuja ao controle das ações proativas.

Desta forma seremos realmente melhores a cada dia e coerentes com as melhores práticas para combater e evitar os acidentes de trabalho.

CONCLUSÃO

Vida em primeiro lugar é o lema das organizações inteligentes.

Só vale a pena crescer quando a vida é preservada.

Os milhares de acidentes de trabalho que acontecem a cada ano no Brasil (notícia aqui), certamente podem ser evitados a partir da memória consciente.

Construir essa memória é essencialmente a grande missão.

O conhecimento é a resposta da humanidade aos seus desafios e está à nossa disposição para saber como evitar acidentes de trabalho e como criar organizações que sejam coerentes com o grande propósito humano; evoluir.

É possível zerar os acidentes se realmente quisermos e trabalharmos juntos.

Por mais que a tecnologia evolua, sejamos sempre a grande causa da prevenção de acidentes.